Serviços a um quarto alheio, vírgulas caindo da cama desfeita como se a noite fosse de estrelas decadentes, ou sonhos atados com cordel adocicado como se o açúcar fosse açaime e coleira. Na voz, sumida de tanto suor, o resto do dicionário da fadiga auto-inflingida, sílabas que se perdem quando os cortinados estão abertos aos olhares do prédio em frente. Os cigarros amarrotam-se por entre fumo teimoso e batom desfiado, os arranhões de uma coca-cola seca e pegajosa, o sofá gasto das tardes sem conta, as mesmas posições, as mesmas canções que arranham de tanto rodar. No tecto, as rachas de anos sem fio. Nas paredes, posters que se rompem, desafiando as tendências e discos riscados. No chão, as marcas dos que passaram e se vieram. Na mão, o traço tardio da mudança adiada. Sobra um casaco. O que rumina o depois, tornando morna o resto da tarde.
Ao som de Madrugada "A Deadend Mind"
julho 18, 2025
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Tão bom este ambiente decadente e reservado, cheio de imagens de rotina e desejo abafado. Um cenário saturado de melancolia e exaustão. A leitura, ao som da música, imprime na sensação de clausura, em que o depois não passa de adiamento.
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