Lanternas. Vermelhas. Tremem. Pulsam. E respiram. Respiram como corações? Pulsam e tremem. Como corações
Som de madeira rangendo. Rangendo. Passos. Os meus? Não serão os meus passos. Não.
Bares abertos. Fechados ao óbvio.
Música. Shamisen distante.
Cheiro. Bebida, incenso e madeira antiga. Charuto? E chuva? Talvez.
Portas rangendo. Abrindo e fechando.
Salões de luz filtrada. Papel de arroz. E olhares que não me encontram. E se encontram? Risos que se desfazem antes de serem ditos.
Neon. Vermelho. Azul. Branco. Lampejos. E Pulsando fora do peito.
Tempo curvando e desaparecendo. Reaparece dobrado. E quebrado, escapa. Escapa-nos
Na esquina, outro tempo. E a seguir, outra esquina.
Passo. Eco. Eco. Eco de passos. Meus? Talvez meus se fragmentos.
Fragmentos como memórias que não são.
Respiração. Sinto. Encosto. E sinto.
A música, os aromas e as sombras. Os brilhos. Tudo mistura. Tudo se mistura.
Bares e salões de portas fechadas. E abertas à luz que a sombra consome.
Lembranças que não vivi. Desejos que não confesso.
Respiração. O pulso tremendo em lampejos que pulam. Tremendo.
Passo. Passo. Passo. Sigo. Perco. Encontro. E reencontro.
Rua que respira. Rua que guarda. Rua que observa e me engole. Que chama e persegue.
Cada parede é um diário silencioso. Cada sombra um eco. Cada cheiro uma memória.
Passos que se multiplicam e que se dobram. Cada instante duplicado. Duplicado.
Shhh… a música está distante. O shamisen que atravessa. E eu que atravesso, sigo e perco-me.
Luzes, sombras, cheiros e aromas. Sussurros, risos, lamentos e desejos. Memórias. Passos. Neon. Pulso e respiração.
Rua. Rua. Rua. Rua.
Eu? Sigo e existo. Eu estou aqui. E sou aqui. Apenas agora. Apenas. Apenas. Apenas.
Lanternas que tremem. Pulsam como respiro. Como corações ou memórias. Como presentes que não são meus. Mas são meus. Mas são meus.
A rua respira. Observa-me. Guarda-me.
Eu sigo. Eu sigo. Eu sigo.